Pele atópica
A atopia é uma predisposição hereditária, na maior parte dos casos, que pode levar ao surgimento de uma série de alterações. A manifestação cutânea da atopia é a Dermatite atópica, muitas vezes denominado como Eczema atópico. Esta condição aparece tanto no sexo feminino como masculino, podendo atingir cerca de 5-10% da população pediátrica.
O que é a Dermatite atópica?
É uma alteração dermatológica inflamatória crônica de etiologia multifatorial (genética, ambiental, individual) caracterizada por prurido (comichão) intenso e xerose cutânea (pele muito seca). As lesões apresentam morfologia e distribuição típicas, acometendo principalmente crianças com antecedentes pessoais ou familiares de atopia e inicia-se geralmente nos primeiros anos de vida.
Como se manifesta?
As manifestações clínicas da Dermatite atópica dependem da idade da criança e cerca de 75% de todos os casos começam nos primeiros seis meses de idade:
Fase do lactente (dos 0 aos 2 anos). As lesões envolvem sobretudo a face, couro cabeludo e pescoço. Também podem envolver o tórax, glúteos, região anogenital e extremidades.
Fase infantil (2 aos 12 anos). As lesões envolvem sobretudo áreas extensoras e flexoras, com especial afinidade pelas fossas poplíteas e cubitais, assim como dorso das mãos, tornozelos e pescoço.
Fase adolescente (>12 anos). As lesões envolvem sobretudo as superfícies de flexão: punhos, dorso das mãos, pescoço e pálpebras inferiores.
Complicações possíveis?
Pela vulnerabilidade da pele, as lesões de Dermite atópica podem complicar-se por infecções bacterianas, virais ou fúngicas:
Infecções bacterianas. É frequente a colonização por Staphylococcus aureus (78 a 100%). Deve-se suspeitar de superinfecção quando estiverem presentes crostas melicéricas cobrindo as placas eczematozas. Neste caso chama-se a esta infecção Impétigo e deve ser tratada com antibiótico.
Infecções virais. A vulnerabilidade às infecções virais está também presente, sendo as infecções mais frequentes: infecções virais do trato respiratório superior, verrugas, molusco contagioso, herpes zoster e herpes simples.
Infecções fúngicas. Podem ser mais freqüentes em pacientes com dermatite atópica do que no restante da população. Fungos geralmente implicados: Trichophyton rubrum, Ptirosporum orbicularis e Ptirosporum ovale. Ocorrem predominantemente em couro cabeludo, face e pescoço.
Tratamento
O primeiro passo no controle da dermatite atópica é a educação do paciente e seus familiares, no sentido de esclarecer a natureza crônica da doença, buscando transmitir orientações de autocuidados e informações atualizadas sobre o tratamento.
O manejo básico da dermatite atópica consiste em três pilares fundamentais:
1- Afastamento de fatores irritantes e desencadeantes
2- Hidratação adequada e continuada da pele
3- Controle da inflamação e prurido com medicamentos
1. Identificação e eliminação de fatores desencadeantes
- Afastar possíveis elementos desencadeantes: detergentes, sabões, amaciadores, roupas sintéticas, etiquetas, materiais abrasivos, poluentes, produtos químicos e condições extremas de temperatura e humidade.
- Utilizar sabão de glicerina neutro para roupa em geral; roupas novas devem ser lavadas previamente ao uso para reduzir a concentração de formaldeído e outros irritantes;.
- Vestuário, de preferência, deve ser de tecido de algodão a 100%
- Sabonetes e champôs à base de aveia e sem perfume
- O banho deve ser rápido com temperatura amena, não sendo recomendados banhos de imersão.
- Alérgenos ambientais e alimentares: a história detalhada pode encontrar alimentos suspeitos de estarem relacionados com o quadro de dermatite atópica. Para auxiliar na investigação da alergia alimentar pode-se realizar testes cutâneos, determinação de IgE específica e dieta de exclusão do alimento suspeito por 2 semanas.
2. Hidratação
- Permite restabelecer a barreira cutânea, evitando a perda exagerada de água
- Os hidratantes mais recomendados são essencialmente de aveia.
- Evitar o uso de hidratantes com uréia, corantes e perfumes.
- Uso de cremes emolientes para evitar a xerose (secura) da pele
3. Tratamento medicamentoso
Corticoesteróides (CE):
- Reduzem a inflamação e o prurido. Os CE tópicos são divididos em grupos, de acordo com a potência. A eleição depende da gravidade e da extensão das lesões
- CE de baixa potência, sobretudo na face, como o acetato de hidrocortisona, pelo menor tempo possível. Os cremes devem ser utilizados para lesões agudas e sensíveis e as pomadas para lesões crônicas.
Anti-histamínicos orais:
- Anti-histamínicos clássicos (dexclorfeniramina, hidroxizina), pelo efeito sedativo em lactentes e pré-escolares, são preferencialmente recomendados.
- Outras gerações de anti-histamínicos, como a loratadina e a cetirizina, demonstraram ser eficazes no controle do prurido.
A maioria dos casos de dermatite atópica é bem controlada com medicação tópica. A utilização de inibidor de leucotrienos (montelucaste) em pacientes com dermatite atópica com discreta resposta ao tratamento com anti-histamínicos e CE tópicos mostrou-se útil em reduzir o prurido, melhorar o padrão do sono e diminuir a extensão das lesões. Nos casos em que as medidas preventivas e a medicação tópica mais agressiva não funcionam adequadamente para obter o controle do processo inflamatório, considera-se a utilização de imunomoduladores sistêmicos.
Quando desaparece a Dermite atópica?
O curso da dermatite atópica é crônico, apresentando períodos de exacerbações e remissões. O início precoce do eczema esta correlacionado com a sua maior gravidade. Em torno de 60% dos pacientes desenvolvem a doença no primeiro ano de vida e 90% antes dos 5 anos. Somente 25% dos casos persistem na idade adulta. Nestes pacientes, observa-se associação com eczema flexural precoce e alergia respiratória.
REFERÊNCIAS
1 Capdevila, E. Fonseca, “Dermatitis atópica” Anales de Pediatría Continuada, 2003 – Asociación Española de Pediatria
2 Simão, HM, Actualização em dermatite atópica, Departamento de Alergia e Imunologia da SBP
3 Atopic eczema in children - Management of atopic eczema in children from birth up to the age of 12 years, NICE clinical guideline 57, Dez 2007